segunda-feira, 12 de maio de 2008

Lote 2


O Lote 2 foi a minha segunda casa, onde vivi entre os 6 meses e os doze anos da minha vida. Era um prédio muito dado a aventuras e, sobretudo, propenso a grandes catástrofes naturais, sempre vividas com grande cumplicidade por parte de todos os habitantes! A coisa começou logo bem, uma vez que logo da primeira vez que lá entrei, com seis mesinhos apenas, fiquei presa com a minha mãe no elevador... era apenas o começo! Como o prédio tinha sistema anti-sismico e está num sítio muito alto, não havia terramoto ou tempestade que não se sentisse e era habitual ver, a meio da noite, a malta toda a correr pelas escadas abaixo, de pijama (ou sem ele), com a filharada às costas. Depois, seguia-se um "agradável convívio" no Hall de entrada do prédio, até passar o susto e conseguirmos voltar a ter sono... aventuras destas nunca faltaram naquela casa, de tal maneira que até conseguimos ter um incêndio que consumiu todo o 10º e parte do 9º andar (mas essa não posso ser eu a contar porque não estava cá)...
Uma noite de Outono, estávamos nós a jantar quando se pôs uma tempestade daquelas que parecia que deitava o prédio abaixo, com os alumínios das varandas a enfolar para dentro da casa, vento a entrar, chuva, relâmpagos, enfim... tudo a que tinha direito! Como era costume, a vizinhança começou toda a mobilizar-se para a tradicional debandada escadas abaixo e os nosso vizinhos do lado entraram pela nossa casa dentro para "juntar as tropas" - é preciso dizer que as portas estavam sempre abertas -.
Nesse momento, não percebi bem como, instalou-se o caos total! A minha irmã começou a entrar em stress com a situação e, como era costume, desatou a vomitar, a minha mãe não queria sair com a casa toda vomitada e andava atrás dela, de pano e esfregona em punho a limpar o vomitado, a minha vizinha e grande amiga que está comigo na foto, assim que se apercebeu de que tínhamos castanhas assadas, agarrou-se à travessa e não havia maneira de sair dali sem ela, a mãe dela, por sua vez, meteu na cabeça que não podia levar o filho mais novo para baixo sem o vestir em condições, o que implicava não só vestir propriamente mas penteá-lo impecávelmente, enquanto todos esperávamos, meio em pânico, no corredor das escadas... eu só queria sair dali, mas não havia meio de decidirem se o caso era para tanto ou não!
Depois de muita confusão, lá se arranjou maneira de finalmente começarmos a descer, a pé, claro, os oito andares que nos separavam da salvação, para podermos, mais uma vez, aguardar todos a bonança no hall, em conversações com os restantes vizinhos.
Valeram-nos as castanhas que a minha amiga não largava, para entreter o estômago durante a espera...

3 comentários:

cavagnac disse...

O Lote 2 da Rua de Aveiro foi, possivelmente, o local de todas as catástrofes naturais e pessoais para todos. Foi também a melhor escola de vida na sociedade coimbrã. Melhor que o Bigbroder( ? )- falta-me uma ou duas letras - para laboratório de experiência feita e observatório de conhecimento empírico. Foi um período muito rico de vivências com os variadíssimos feitios e personalidades dos amigos. Aprendemos muito, principalmente no que tem a ver com o que podíamos ou não manter da nossa anterior forma de estar na vida. Creio, no entanto, que apesar de tudo conseguimos o pico da alegria diária, semanal, mensal e anual com maior concentração no tempo e nas nossas vidas. Os dramas também aconteceram. Ainda hoje retiro daquelas convivências muitas das lições que me farão - se lá chegar - um ancião mais calmo e lúcido.
Tenho pena, quando olho para o lado, dos que não puderam passar por experiência tão rica.
Estamos todos muito separados agora. Porém penso que nunca nos conseguimos separar daquelas experiências e elas fazem parte no nosso dia a dia.
Será que fui sério de mais nesta apreciação? Naquele tempo não tinha experiência, nem saber. WEra o " vamos embora"

tikita disse...

"A Sónia é poca...num qué cotá unha!!"

Sempre a manchares a minha reputação..;P

Perchta disse...

EU NEM DISSE NADA!!!