quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

"É merda..."

O meu amigo Zé... ( este não é o Nóbrega) a dada altura da sua vida, rondando os 19/20 anos, viu-se na necessidade de emigrar para França.
Como não sabia grande coisa da língua todos os do grupo, o tio Cláudio, o tio Sérgio, o Alípio, o Babo, o Vieira e, talvez, eu próprio, se propuseram dar-lhe umas lições básicas durante as férias de Verão.
O Zé...foi para França em época que se não precisa. O certo é que, no verão seguinte, veio de férias a Portugal.
Na altura frequentávamos todos o mesmo café - Café S. Fins - criado e explorado por outros três amigos mais velhos que nos permitiam amplas liberdades quer ao nível do consumo quer ao nível da utilização - era costume fazermos lautas ceias com carnes grelhadas, chouriços e sei lá que mais, numa pequena arrecadação que antecedia as casas de banho e onde, por norma, se encontravam as grades de cervejas e outra bebidas pouco usadas por nós, que nos serviam de mesa e cadeira.
Como era hábito assim que chegávamos de férias de imediato corríamos ao Café S. Fins para rever os velhos e costumeiros amigos, aí se iniciando o programa das férias e, talvez fique bem dizê-lo, elaborávamos o plano e orçamento para aquele período.
Em cumprimento do costume instituído o Zé... que tinha chegado de madrugada, assim que pôde foi ter com o pessoal.
A curiosidade era muita e muitas foram as perguntas a que teve de responder.
Contou, então, um episódio que nenhum de nós esquece - ainda agora se recorda amiudadas vezes quando estamos juntos - que se tinha passado com ele na viagem de regresso.
Não sei até que ponto serei fiel ao relato efectuado.
Talvez convenha dizer que o Zé.. era um homem de riso franco em boca larga. Quando se ria e ria muito e bem, para além da farta dentuça, quase se lhe viam as entranhas. Então foi assim:
Quando chegou a França o Zé acomodou-se como pôde, não me recordo se em casa de amigos ou com amigos de aventura, em casa que tenham arrendado. Certo dia, mais precisamente durante a noite, o Zé...viu-se muito apertado, que é como quem diz, deu-lhe uma grande vontade de "evacuar", fruto de aguda e repentina " caganeira"(1). De tal modo foi que, não dispondo de tempo - ou seria de casa de banho? - resolveu " arrear o calhau"(1) numa mala que tinha consigo. Serviço feito o Zé fechou a mala e colocou-a sobre o armário onde tinha a roupa, com a intenção de, no dia seguinte, se desfazer daquele tesouro.
Ora, o Zé...nunca mais se lembrou ou, se se lembrou, nunca mais conseguiu a oportunidade esperada de resolver a questão. Tanto quanto me recordo, só na véspera de se vir embora e porque necessitava de fazer as malas, se apercebeu da prenda que tinha em mãos. Como não lhe era fácil desfazer-se do objecto e respectivo conteúdo resolveu meter a mala no carro com intenção de, atravessada a fronteira, a largar em Portugal.
Nas fronteiras francesa e espanholas o Zé...escapou.
Porém, em Vilar Formoso o zeloso guarda quis que o Zé abrisse as malas para detectar eventual contrabando e colher os respectivos frutos.
O Zé...assim fez recusando-se, no entanto, a abrir a pecaminosa. O guarda mais polícia ficou e impôs-lhe a respectiva abertura. O Zé bem tentou explicar-lhe que não trazia contrabando, que a razão da sua recusa era legítima.
Ao fim de muito tempo de argumentação lá lhe perguntou o guarda
- Mas, afinal, o que traz na mala que não nos quer mostrar?
- É merda senhor guarda! Rrespondeu o Zé...
Parece que o guarda não gostou.
Parece, até ,que quis prender o Zé....
De tal modo foi que o Zé se viu na necessidade de lhe dizer que não abria a mala mas que ele, guarda , o poderia fazer desde que o não incomodasse com o resultado.
O Guarda abriu a mala.
O Zé atravessou Portugal com a mala e à míngua de local apropriado, antes de entrar em casa dos pais despejou-a no próprio quintal.
Como disse, o Zé...era de riso fácil e grande. Acrescento que era, também, contagiante.
A estória não tem muito de engraçado.Porém,
O Zé...ria, tanto a contar o episódio como com a ideia de que seu pai, a quem não tinha contado nada, a iria encontrar e certamente ficar furibundo, que não sei de que parte nos ríamos nós mais e também.
O Zé... já veio definitivamente para Portugal há muitos anos.Parece-me bem. Não imagina é que sempre que vou visitar a avó e, por isso, passo em frente da casa dele, ainda me rio com gosto, apesar de para dentro, daquela estória e recordo aquelas amenas reuniões do Café S. Fins.

(1)- palavras ditas pelo Zé, essas sim, inesquecíveis.

1 comentário:

loclicas disse...

A vida não é fácil ....
Mas são estas dificuldades que a tornam engraçada...