terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

As Tarininhas

continuando com as memórias.
Um dia farta de que andassem sempre à minha procura , e como era muito grande, resolvi meter-me dentro de um gavetão do guarda vestido a ler (andava na escola) claro que não li nada pois era escuro e provavelmente adormeci.Passado algum tempo acordei com um alburoço,telefonemas para a guarda de Lousada etc,e apercebi-me que o problema era eu ter desaparecido. A coisa estava negra ...então deixei que saíssem do quarto e como sempre, e a assobiar fiz de conta que não sabia de nada. Quando me viram aquilo foi uma felicidade ,abraços e beijo ,telefonemas para a família e para a guarda.Só mais tarde tive coragem de contar o que se tinha passado.

A Né como estava sempre constipada não saia de dentro das portas . E tinha umas bonecas pequeninas (do tamanho de um dedo) a que ela chamava Tarininhas, eram muitas e todas tinham nomes , ela passava os dias com as tarininhas na escola,em casa,... aquilo era a pré historia das novelas. Eu de vez enquanto passava pela sala grande para ver o que ela estava a fazer , mas a coisa acabava sempre mal . Porque ou lhe tirava algumas ou desorganizava a escola e pronto, lá estava a Né de boca aberta a chamar a Má ,que aparecia sempre não sei de onde, e pronto lá ia eu de roda,lá para fora.Mas não desistia , e muitas vezes bastava espreitar na porta, para que ela abrisse a boca.
Muitas vezes a estratégia era utilizada para poder ir para o jardim, quando chovia ou estava proibida de ir por castigo.À noite era muito engraçado, não havia televisão por isso no fim de jantar íamos para a cozinha, e enquanto a Rosa arrumava a cozinha rezava-se o terço,depois o Pá contava estórias de coisas de antigamente, o pior era quando a Má resolvia contar estórias dos lobishomens (o pá não gostava e tentava estragar a estória toda) mesmo assim nesses dias era mais difícil irmos de peito feito para o quarto.

1 comentário:

Perchta disse...

Ai as Tarininhas, as Tarininhas... memória que atravessa várias gerações...anda sempre uma por aí perdida em qualquer das nossas casas! Será que nas outras também é assim? Mas verdadeiro mistério é como conseguiam fazer roupa para essas coisas mínimas... nós agora chamamos a isso "desenvolver a motricidade fina", mas afinal... quantas meninas não passaram horas e horas com toda a mínúcia a costurar para as suas Tarininhas sem perceberem a importância do que faziam :)?? E mantê-las quietas na escolinha, confesso que também não me parece coisa fácil... quando se equilbrava uma já a outra tinha caído e vice versa. A certa altura aquilo dava uns nervos! Só mesmo uma Tia Né para ter paciência suficiente!