domingo, 10 de fevereiro de 2008

Fins de tarde...

O fim de tarde lá em casa era sempre o momento mais caótico do dia…
A mãe bem tentava gastar-nos as energias no campo, antes de nos meter entre quatro paredes, mas nem por isso a malta ficava mais calma! Todas aquelas horas de prisão escolar deixavam-nos (principalmente à Teresa e ao Rui), verdadeiramente diabólicos.

Ele era a desarrumação geral, ele era incendiar almofadas, ele era incendiar o cabelo à Teresa (sim, isso aconteceu mesmo!), ele era pintar o quarto todo a tinta da china (que fúria!), discussões, pancadaria, quedas, saltos, corridas de bicicleta e triciclo na varanda, pintar as paredes (a história da cama no corredor fica para outro dia), ele era eu aos berros que não se pode fazer os deveres da escola no meio desta confusão, enfim…
Quando a coisa estava a atingir a sua fase mais aguda, a mãe recorria ao plano do costume, que consistia em mandar o velho grito de guerra: “Tudo para o banho, já!”

“Tudo para o banho, já” significava a Teresa e o Rui no banho e eu a preparar a banheira, despi-los, metê-los lá dentro, ir vendo se não se afogavam nem nada do género e depois tirá-los e “providenciar” para que se vestissem, enquanto nos entretantos ia pondo a mesa para o jantar – uma sacrificada, portanto! - .
Já se vê que a hora do banho era para nós um descanso, dava para respirar fundo um bocadinho, mas nem por isso era dada a menos aventuras, como naquele fantástico dia em que, estando a tratar do jantar na cozinha, eu e a mãe começámos a ouvir o Rui a berrar e, à medida que nos dirigíamos para a casa de banho, nos apercebemos de um rasto de sangue pela casa adiante… era sangue e mais sangue, sangue por todo o lado!
A julgar por aquilo, o puto estava a esvair-se e depressa!

Já em pânico lá fomos dar com ele no quarto, com um pequeno golpe na cabeça, fruto de uma discussão com a Teresinha… o golpe era mínimo, mas como foi no banho, o Rui saiu a escorrer água e sangue e deu naquele cenário dantesco espalhado pela casa!
Tudo isto porque, durante muitos anos, o menino Rui tinha uma forma muito sui generis de sair do banho… como não gostava de se limpar (por calor ou preguiça, não sei), a sua técnica consistia em sair a pingar enquanto arrastava a toalha pelo chão atrás de si por forma a ir limpando a água que escorria à medida que ia passando!
Pouco convencional mas apurado, não?

P.S.: Por esta altura já a mãe tinha descoberto que bebendo uma Super Bock enquanto fazia o jantar, tudo aquilo ficava com um aspecto muito mais apresentável. Eu é que não percebia onde raio ia ela arranjar tanta calma e paciência para lidar com a situação...
Claro que quando percebi, e tinha idade para isso, passei a juntar-me a ela. Os miudos não ficaram mais calmos, mas perderam metade da importância.
Já diz o sábio ditado: "Se não podes vencê-los... bebe umas cervejas!"

2 comentários:

loclicas disse...

é preciso lidar com as situações de acordo,para que seja possível mais tarde gozar com as situações.
Quando vou com a leninha a qualquer lado e acontece algum azar ela diz logo "já vamos ter o que contar"

tess disse...

esta é um pouco dificil de comentar visto ser eu quem sou, apesar de nao me lembrar parece que pintei um caderno da escola da mafalda com tinta da china, e, mesmo nao me lembrando fui durante muito tempo oficialmente odiada pela mafalda...sem contar que talvez pela minha extrema sensibilide ,e espaço que ocupava,fui a causa de tantos traumas. Pois é o que uma criança faz sem saber...